sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

E Alice teve um sonho...

Algumas pessoas nunca se livram dos medos de criança. Na verdade, todos guardam em seu íntimo algo que, quando vem à tona, pode despertar as mais diversas e curiosas reações. Fui amaldiçoada. Minhas lembranças e ligações jamais abandonaram-me. Mas isso não precisa, necessariamente, ser de tudo ruim... Às vezes um pesadelo pode se tornar algo confortante, quando observado com atenção.
Em uma manhã angustiante, lá estava ele, tirando-me à força de meus superiores. Queria levar-me para um local, tinhamos uma missão a cumprir e as tentativas desesperadas de nada serviriam para evitar. Eu tinha que ir e estava tranqüila. Sorria na condução, observando seus olhos enigmáticos pelo retrovisor enquanto este dirigia, sem dizer muito. No fundo, nunca senti medo.
Paramos em frente a um prédio muito familiar. Não sei se era exatamente o local onde me levaria, de qualquer modo, estavamos lá. Logo nos separamos. Há certas coisas que se deve fazer sozinho e esta era uma delas. Não há quem não negocie um acesso com algum agrado. Sabemos muito bem que seguranças franzinos apenas estão lá lutando pelo que é seu, não pelos outros.
Diversos rostos conhecidos, respeitáveis, eu diria que amados. Uma confusão e em um piscar de olhos, talvez dois, estava de frente ao clã. Pediram-me para entrar. Um deslise e quem sabe o que poderia acontecer? Havia certa tensão no ar, não há como negar. Esqueçam tudo aquilo que disse sobre não sentir medo. No fundo, o medo nos acompanha em vida, para a morte.
Eis que encontro a feiticeira de olhos de vidro, negros como jóias brutas ainda não descobertas. Há quanto tempo espero por isso! Seus olhos emitem um feixe de luz certeiro, era impossível se esconder. "Agora irá me dizer tudo aquilo que tem para dizer. Não esconda nada. Agora seus sentimentos já não são mais seus. Coma dessa fruta, minha jovem, e iniciaremos o ritual. Mas não se apresse.".
A tensão ao meu redor parecia aumentar. De fora da saleta, seu olhar, já não tão sorridente, mostrava-se preocupado com o andamento de tudo aquilo. Os olhares ao meu redor dificultavam a introspecção. Por mais que eu quisesse, não seria fácil. Sempre haverá coisas a esconder. Alinhando as sementes mascadas, como que invocando a fertilização da alma, de qualquer modo, ainda não estava pronta. Fugir, às vezes, é tudo o que nos resta...
De qualquer modo, como em um sonho onde tudo acontece sem ligação racional,  assim é a vida... Lá estava, do lado de fora de uma porta vermelho-cobre, sentada ao lado de um rosto frio e pálido, dotado de uma ironia melancólica, cercado de incertezas, como eu... Pedir um abraço a alguém que o sequestra, usando uma máscara de medo, não é uma coisa muito comum. Mas certamente, abraçar um Coringa triste está fora de cogitação. Mas tudo bem, é um sonho... E estavamos lá, abraçados, nós, inseparáveis amigos de infância, ironicamente separados pelo espaço e pelo tempo... E eu sei, no fundo, que ele nunca me faria mal algum... Nem mesmo em sonho. E é por isso que pude voltar a dormir tranqüila...

1 Comment:

  1. Apocaliptico said...
    Já dançou com o demônio sob o pálido luar?

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