domingo, 18 de julho de 2010

Requiem desafinado

Já é tarde e mais uma vez não consigo dormir. Em minha cabeça, reviravoltas, pensamentos, rodamoinhos de emoções. Sozinha na companhia de Bukowski. O último copo é virado antes de, sem pensar duas vezes, atirar-me ao chão envolta pela melancolia desregrada. A maciez da sarjeta conforta aqueles que encontram nas ruas escuras e vazias seu lar.
Rimbaud já escreve suas últimas linhas, mais um cigarro prestes a se apagar. Tubércula imoral, despejo através do sangue cada gota da honra que um dia prevaleceu na face outrora iluminada pelo sol das manhãs. O cheiro de vinho barato que exala meu hálito, rude epicédio de uma existência melancólica. As horas demoram a passar. Tão longas... Tão longas... Tão longa minha dor...
O Whisky queima as feridas em minha língua. Feridas em minha boca... Queima com a dissimulada tentativa dos alcoóis de aquecer o que resta de meu coração. Sem ilusões, aqui não falo de sentimentos ou decepções, falo da matéria em si que insistentemente teima em pulsar em meu peito. Estou podre, por dentro e por fora, e esteja o coração, dentro ou fora, digo que já não há o porquê.
Mais uma garrafa partida em pedaços, como os pedaços que antes refletiam meu ser. Ser monótono e ingrato! Não há mais volta, ele diz. Se na vida tanto em vão tentei encontrar-lhe um sentido, talvez na morte este me acolha e console.
Já não posso mais acompanhá-lo, caro Byron, em suas impressões. Sequer o vislumbre cósmico será capaz de resgatar um único pensamento meu hoje.
Os boeiros, os buracos, os ratos. Até mesmo os ratos fogem de mim. Caída alí, inanimada. Sem uma única estrela no céu a observar a decadência existencial sob sua magnitude. A chuva cai incessantemente sobre meu rosto. O vento corta minha pele e a umidade penetra como se lá não existisse nada. Não há. Fria como uma serpente, sou aquela que se perdeu antes mesmo de corromper Eva. Não tenho salvação. Não quero. Tudo o que peço é que apague a luz e saia antes que a última música se acabe...

Maldita Fada Verde! Se fosse púrpura, pareceria-me mais ingênua...

1 Comment:

  1. Anônimo said...
    Julho de 2010... Foi esta a última vez que tomou como glamoroso alguém podre na sarjeta?
    Notei que escutou Wicked Game repetidas vezes... Nobody loves no one.
    Intriga-me e fascina-me, por favor, não abandone este blog.
    Seu Admirador Secreto

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